A indústria de fundos de investimento passou por uma intensa transformação nos últimos três anos, na esteira da entrada recorde de pessoas físicas na Bolsa e do zigue-zague da taxa básica de juros da economia.
Em agosto de 2020, a taxa Selic chegou à mínima histórica de 2% ao ano em função da pandemia de covid-19, o que empurrou uma leva de investidores para a renda variável e consequentemente impulsionou a demanda por fundos de investimento – principalmente da classe de ações e multimercados. Naquele ano, a indústria de fundos registrou captação líquida positiva de R$ 156,4 bilhões.
Já em 2022, o cenário se inverteu. A taxa de juros chegou aos atuais 13,75% ao ano, maior patamar desde outubro de 2016, e o impacto do ciclo de aperto monetário nos fundos de investimento também ficou muito claro.
Entenda todas as movimentações deste mercado no último ano e como esta nova conjuntura indica sobre finanças comportamentais.
O que aconteceu na indústria de fundos em 2022?
Se em 2020 a queda dos juros aumentou a busca por renda variável e fundos de investimento, no ano passado o cenário de juros altos jogou um balde de água fria na indústria.
De acordo com o Boletim de Fundos da Anbima, no total, os fundos de investimentos registraram saída líquida de R$ 162,9 bilhões no período. Esta foi a primeira captação líquida negativa desde 2008, quando a indústria de fundos teve retirada de R$ 65,6 bilhões. É também a pior marca desde 2006.
As classes de fundos no Brasil
Nos 12 meses de 2022, os fundos de ações perderam R$ 70,4 bilhões, enquanto os multimercados registraram saída líquida de R$ 87,6 bilhões. Nem mesmo os fundos de renda fixa escaparam da sangria: tiveram retiradas da ordem de R$ 48,9 bilhões.
Já na ponta positiva, os principais destaques foram os fundos de investimentos em participações (FIP), que captaram R$ 17,8 bilhões entre janeiro e dezembro do ano passado. Esta aplicação investe em negócios em expansão e tem a possibilidade de aportar recursos em empresas fechadas, como startups, e é reservada para investidores qualificados. Isto é, que tenham pelo menos R$ 1 milhão investido.
Os fundos de previdência também registraram captação líquida de R$ 13 bilhões. Na mesma toada, os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) conseguiram surfar um movimento positivo, mesmo com cenário econômico adverso, e tiveram a entrada de R$ 12,6 bilhões.
Os FIDCs são atualmente reservados para investidores qualificados, mas, a partir de abril de 2023, poderão ficar abertos ao público em geral dado o novo marco regulatório estipulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Por último, os fundos cambiais e de índice (ETFs) registraram captação positiva de R$ 178,5 milhões e R$ 366,3 milhões.
O ano dos Multimercados
Apesar de os multimercados terem experienciado uma fuga de investidores em 2022, essas aplicações performaram bem no ano. Os multimercados macro (cuja estratégia é baseada em cenários macroeconômicos de médio e longo prazos) apresentaram rentabilidade de 17% no período.
A única subclasse de multimercados que registrou rentabilidade negativa foi a de “capital protegido”, que é atrelado a algum ativo, como ouro, índices ou ações. Já quando o assunto são fundos de ações, das 12 subclasses definidas pela Anbima, sete apresentaram performances negativas. A pior modalidade foi a de “ações setoriais” (que compram empresas de um único setor), cuja desvalorização média foi de 27,46%.
Como esperado, na renda fixa os resultados foram majoritariamente positivos. A valorização média da subclasse de “duração baixa crédito livre” foi de 13,72%. Os desempenhos negativos ficaram com os fundos atrelados à dívida externa ou investimentos no exterior, com retornos de -10,99% e 4,97%, respectivamente.
Finanças comportamentais e a indústria de fundos
As ondulações na indústria de fundos de investimento podem ser explicadas pelas finanças comportamentais. Em épocas de juros altos, os investidores ficam mais aversos a risco, já que os ganhos na renda fixa são ampliados. Entretanto, o recomendável não é sair de aplicações só porque os investimentos conservadores, como o Tesouro Selic, estão rendendo mais. De mesma forma que não é indicado vender títulos públicos e ir para a bolsa quando os juros estão baixos.
A saída de capital dos fundos multimercados, mesmo em face do desempenho positivo destes produtos, exemplifica muito bem o comportamento, por vezes “irracional”, dos investidores. O ideal é ter um planejamento de longo prazo e sempre respeitar o seu perfil de risco, mesmo que o cenário econômico sofra mudanças.
O que esperar da indústria de fundos em 2023?
Para 2023, a conjuntura deve continuar complexa para os fundos de investimento. De acordo com o Boletim Focus, a taxa Selic deve chegar ao final do ano ainda em dois dígitos, o que historicamente é um patamar inversamente proporcional à demanda por renda variável. Mais do que nunca, o trabalho de educação financeira se faz necessário, para que os investidores não tenham prejuízos pulando de investimento em investimento. Também será mais um ano de desafios para os gestores.
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